sábado, 24 de outubro de 2009

Construção do heterônimo - clínica

Em meus seminários clínicos tenho uma preocupação especifica com a re-humanização do analista e com des-racionalização da psicanálise e do raciocínio psicanalítico, convidando meus alunos/aprendizes para um tipo de pensar mais ‘despretensioso’, que, no entanto, me parece mais potente para o tipo de trabalho que desenvolvemos no interior das sessões.
Não há uma linha que me oriente propriamente, na verdade é um convite ao livre pensar e à liberdade de agir sem exceder os limites de um trabalho. Além disto, é um incentivo à formação de um tipo de atitude, que me parece dar uma consistência melhor ao ‘ato analítico’, de tal forma que ele ganhe em potência e precisão, com redução vantajosa da paranoização que a “neutralidade” introduz no setting.
Se eu formo, ou melhor, se eu ajudo a dar forma ao psicanalista que há em cada um, é porque acredito ser necessário exercitar-se para “sermos nós mesmos” que resulta em excelência e desenvolvimento de um estilo pessoal, e não em um aprendizado burocrático de uma tarefa. Parece-me importantíssimo que o psicanalista não seja feito pela via da pantomima teatral, auto-construindo uma máscara psicanalítica. Parece-me central, isto sim, que na verdade ele descubra em si um heterônimo. Isto é: o psicanalista aprendiz deve procurar desenvolver um heterônimo. Deve ser capaz de desenvolver um outro eu que seja ele-mesmo, para além de si ainda sendo ele. E isto, tenho certeza, não se faz por esforço, mas sim por entrega.
Emir Tomazelli

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Conversa entre Bion e Klein

"Durante uma sessão de análise, Bion indaga à sua analista Melanie Klein “o que vem a ser Psicanálise?” e se surpreende com a seguinte resposta “é uma pré-concepção à procura de quem a realize”. (PSICANÁLISE: BION - Da Clínica às Teorias Possíveis - São Paulo, 03 abril de 2009; Antonio Sapienza.)


Dr. Emir

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Clínica

A saturação das informações sobre a vida do cliente devoram de algum modo a possibilidade de o analista fantasiar sobre o espaço vazio de investigação.
Deveríamos, debruçados sobre um parapeito onírico, observarmos os lapsos de nossa construção racional sobre o sujeito que nos fala. E darmos a ela um formato de objeto de curiosidade mais que de esclarecimento.
Formular 'a' questão é o ponto mais alto da interpretação do analista, tanto quanto é a sua sensação de que não deveria falar o que está pronto e prestes a dizer...
A história narrada, se não remete ao sonho, não poderá ser ouvida como sendo regida por um inconsciente capaz de imaginação. Isto é: antes do bebê ter inconsciente, é necessário que ele (o inconsciente) exista em algum lugar, por exemplo na mente da mãe. Neste sentido a mãe é o primeiro lugar onde a repressão ocorre, e com ela a cisão do aparelho do bebê pode acontecer.
Isto quer dizer que a consciência primitiva é una, sem divisão. Ou, dito de outra forma, o estado em que está a consciência primitiva é pura lucidez, tanto quanto é ausência de significação e de subjetivação. 'Funes o Memorioso', do Borges. Paul Auster fala que Proust não é um exemplo de memória: quem não esquece de nada, de nada pode se lembrar !!
Os dados, da vida de um homem, no ouvido do psicanalista, se forem enumerações que tendem ao infinito, destruirão o significado dos números porque estes não servirão mais ao seu propósito precípuo, a saber, de serem vínculos entre indivíduos!


Dr. Emir