- Revolutionary Road
Um casal que se ama muito, e supõe poder pensar ser um casal especial, se casa e decide viver a vida juntos, ter filhos e morar bem.
Desde o início brigam, estão tensos quando estão na realidade. Vão à loucura, estão transtornados, sempre prontos para a destruição do oponente que proíbe o prazer fantasioso.
Quando estão “fora dessa realidade”, quando sonham que são especiais um para o outro, se amam e se prometem a felicidade e a vida viva.
Na realidade estão sós. Há um espelho que os separa. Eles o desconhecem e não têm como atravessá-lo, menos ainda como formulá-lo.
Só ultrapassam esse umbral quando, juntos, entram no sonho de viverem juntos. Mas na realidade estão sós. Mais que sós. Estão isolados, incomunicáveis.
Quando sonham se amam, e amam amar a vida e a aventura de vivê-la, e de ir para onde o deus interno mandar. São felizes ao satisfazerem o ‘Dioniso’ íntimo. Infelizes na realidade, no cotidiano. Onde a dureza moral e a morte do amor habitam.
Mas como todo rio, em algum momento, nossa vida também bifurca. Desvia, e se torna errática.
Assim, como todo fluxo que arrasta a água a força, a vida - para quem nós e nossos sonhos são absolutamente indiferentes - nos leva para um ponto qualquer, e nos obriga a operar com o que temos ou com o que nos sobra. Esses poderes maiores que nós e a nós indiferentes, acabam por nos arrastar na direção em que sua força empurra, pouco se importando com o que aos nossos sonhos acontece ou a nós mesmos.
Crava-se na cara do espectador, que a vida tem um sentido que não sabemos se queremos dar a nossas vidas. E que, mesmo que não o queiramos, o fluxo intenso nos leva para longe do projeto traçado em nossos sonhos, quando estávamos acordados sonhando juntos.
Por vezes somos absolutamente nada. E o gesto mais banal, feito com a segurança que somente os ingênuos possuem por não avalirem bem o perigo, faz de nossa vida um alvoroço. É como se nós saíssemos junto com a massa que grita nosso nome, e fôssemos, em meio a balburdia, arrastados para um modo de lidar com a vida no plano da autopreservação narcísica, mais que no do amor e do devaneio.
A queda é triste e sem perdão. E, se o ventre de uma mulher pode trazer a vida e a alegria, certamente, quando não fecundado também pelos sonhos, não fará outra coisa que não matar a ambos os corpos de bebê e de mãe, deixando o pai - macho imbecil - absolutamente só.
O que resta é apenas baixar o som do aparelho auditivo, para não ouvir a própria mulher, que fala mal dos vizinhos para o nada, enquanto afaga mecanicamente seu cachorrinho de estimação.
Mesmo assim, ou exatamente por isso, creio que valha a pena assistir o filme, apesar de imensa tristeza com a que se sai do cinema.
Dr. Tomazelli
Mesmo assim, ou exatamente por isso, creio que valha a pena assistir o filme, apesar de imensa tristeza com a que se sai do cinema.
Dr. Tomazelli