domingo, 15 de fevereiro de 2009

Recomendação de filme.

- Revolutionary Road


Um casal que se ama muito, e supõe poder pensar ser um casal especial, se casa e decide viver a vida juntos, ter filhos e morar bem.
Desde o início brigam, estão tensos quando estão na realidade. Vão à loucura, estão transtornados, sempre prontos para a destruição do oponente que proíbe o prazer fantasioso.
Quando estão “fora dessa realidade”, quando sonham que são especiais um para o outro, se amam e se prometem a felicidade e a vida viva.
Na realidade estão sós. Há um espelho que os separa. Eles o desconhecem e não têm como atravessá-lo, menos ainda como formulá-lo.
Só ultrapassam esse umbral quando, juntos, entram no sonho de viverem juntos. Mas na realidade estão sós. Mais que sós. Estão isolados, incomunicáveis.
Quando sonham se amam, e amam amar a vida e a aventura de vivê-la, e de ir para onde o deus interno mandar. São felizes ao satisfazerem o ‘Dioniso’ íntimo. Infelizes na realidade, no cotidiano. Onde a dureza moral e a morte do amor habitam.
Mas como todo rio, em algum momento, nossa vida também bifurca. Desvia, e se torna errática.
Assim, como todo fluxo que arrasta a água a força, a vida - para quem nós e nossos sonhos são absolutamente indiferentes - nos leva para um ponto qualquer, e nos obriga a operar com o que temos ou com o que nos sobra. Esses poderes maiores que nós e a nós indiferentes, acabam por nos arrastar na direção em que sua força empurra, pouco se importando com o que aos nossos sonhos acontece ou a nós mesmos.
Crava-se na cara do espectador, que a vida tem um sentido que não sabemos se queremos dar a nossas vidas. E que, mesmo que não o queiramos, o fluxo intenso nos leva para longe do projeto traçado em nossos sonhos, quando estávamos acordados sonhando juntos.
Por vezes somos absolutamente nada. E o gesto mais banal, feito com a segurança que somente os ingênuos possuem por não avalirem bem o perigo, faz de nossa vida um alvoroço. É como se nós saíssemos junto com a massa que grita nosso nome, e fôssemos, em meio a balburdia, arrastados para um modo de lidar com a vida no plano da autopreservação narcísica, mais que no do amor e do devaneio.
A queda é triste e sem perdão. E, se o ventre de uma mulher pode trazer a vida e a alegria, certamente, quando não fecundado também pelos sonhos, não fará outra coisa que não matar a ambos os corpos de bebê e de mãe, deixando o pai - macho imbecil - absolutamente só.
O que resta é apenas baixar o som do aparelho auditivo, para não ouvir a própria mulher, que fala mal dos vizinhos para o nada, enquanto afaga mecanicamente seu cachorrinho de estimação.
Mesmo assim, ou exatamente por isso, creio que valha a pena assistir o filme, apesar de imensa tristeza com a que se sai do cinema.
Dr. Tomazelli

Mais um poema, uma oração a mais!

Aquele que vaga

para aquele que vaga
no deserto do vazio
enquanto atravessa da casa para o trabalho
não lembra que o galho seco da caatinga onde transita,
se resvalar no olho do cabra ele mesmo,
fere-lhe a retina.
(corre de olho fechado, meu rapaz!
o muro, já sem reboco, te aguarda.
quer transformá-lo no verme que habita a fissura do tijolo e o miolo da argamassa)

quando a pessoa se perde
por vezes vai atrás do rabo.
assim só descobre o rabo como o motivo de sua desgraça.
(pobre diabo que se supunha prontinho e que nada mais lhe fosse acontecer de mal!
Depois ouve vozes:
“Eu lhe disse!”
“Eu lhe avisei.”
“Eu sabia.”
“Eu tinha visto que não iria dar certo.”
“Só você mesmo para acreditar nisso.” “É um banana.”
“Um homem, lúcido, não dá o passo maior que as próprias pernas.”)

meu deus? que cheiro úmido havia no porão da casa dos meus avós!
que excitações, que medos.
mistérios e bichos rastejantes dos quais sempre me mantive longe. um estranho odor de gás. mas ninguém buscou o suicídio através dele. foi o câncer mesmo que lhes fez o serviço.
nunca me imaginei crescendo. nunca me imaginei capaz...
não havia como formular essa pergunta naquele tempo, naquele início. tudo corria sem perigo ou problema.
afinal nasci de meu pai e isto, por si só, já bastaria...
mas... como minha mãe tinha medo dele, escapei de ser assassinado por ambos! foram mutuamente vigilantes e me protegeram de los odios suyos,
mas não escaparam um do outro sem se maltratar bastante. e isso é assim até hoje.
a vida correu, e eu corri um sem número de vezes fugindo do chinelo e da cintada!
levei algumas, me safei de algumas.
lá se foram os anos por baixo da ponte sobre a caudalosa correnteza...
e aí só foi nascerem os filhos... e... meu deus! um único solavanco e
a carga imensa pelos ares e o desespero para mantê-los vivos...
tentei mas...
tudo foi cedendo ao nada.
e as visitações aumentaram em número e tamanho
e os fantasmas se apossaram também do dia, porque a noite já era deles,
e a vida passou a ter que caber em um aposento a menos... mais exígua, mais asfixiante.

15/02/2009
emir tomazelli

Viste na web!

Talvez seja interessante visitar:

http://www.tomazelli.org/



Dr. Tomazelli

mais palavras interessantes.

Márcio Peter cunhou este termo.
Olhem que interessante!
"Foliesophie:
As significações da loucura não foram sempre as mesmas. Na visão de Homero, os homens não passariam de bonecos à mercê dos deuses. Situação, em que não teriam o domínio de si mesmos e por isto teriam seu destino conduzido pelas "moiras', o que criava uma aparência de estarem fora de si, de estarem possuídos por uma força maior e exterior. A isso os gregos chamaram 'mania'."
- Para saber mais e ler até o fim, acesse:

http://www.marciopeter.com.br/links2/destaques/dest_psicose.html

Dr. Tomazelli

Dr. Tomazelli recomenda muito!

Caros,
visitem este sítio de Márcio Peter de Souza Leite:


http://www.marciopeter.com.br/

Vale a pena.
Lição de simplicidade.
Isto é, profundidade associada a clareza e precisão.

Dr. Tomazelli

A clausura.

Fecho-me porque não tenho coragem de me conhecer, psicotizo para não me envolver com a descoberta de minha própria vida, de minhas próprias perdas e dos trajetos (avanços, retornos e labirintos) de minha própria história. Com isto evito contato com todas as experiências ligadas ao eixo temporoespacial, tais como:
- a duração, a espera, a distância, o percurso, o esforço, a ânsia, a angústia, o ficar, o ir, o permanecer, o voltar, o estancar, o fluir, o estagnar, o desfrutar, o prever, o desejar, o estar, o ser, a despedida, o adeus, a dor do esperar pela a vida a se viver, o isolamento, o exílio, a deserção, o território, a caçada, a emboscada, a presa, o matador e... a morte...
É psicótica a atemporalidade do inconsciente. Nela se trabalha com restos da presença, sem que o real participe a não ser como invasor, intruso.

Dr. Tomazelli