domingo, 18 de janeiro de 2009

Cães...

Cachorro na coleira

Cão de garoto truculento,
cão de cão,
cão de pit (bull) boy,
cão de madame (histérica ou deprimida),
cão para ‘trazer’ criança quando o casal ainda não é pai,
cão para acalmar criança quando já são pais,
cão para acompanhar a vovó que perdeu o marido, mesmo quando não perdeu.
cão pra substituir um filho morto ou pra substituir um filho não nascido, e que nunca irá nascer. Cão de cão. Amor pelo cão. Cão amor. "Amor-i-cão"!
Cão para ocupar o vazio genocida do homem solitário incapaz de amor.... mesmo que esse amor seja amar um outro homem... Não, não!, este homem só ama cão: homeamacão!
...ou aquele cão que tapa o vazio dolorido que marido bom deixa na mulher amada...
Cão para salvar um homem que sofre com o luto de sua mulher.
Cão de grude,
cão de grade,
cão de enfeite,
cão patife,
cão de portão,
cão perdido,
cão devoto,
cão de serviço,
cão de cego, cão de amor (meu deus que horror),
cão de guia, cão de sexo, cão de morte...
Devoção ao cão: devo-cão! Cão de labro. Cão de coração. Cão pião. Cão positor. Cão çado!
Cão tinente!
Cão de horror...
Detesto seres de companhia...
Me bastam meus chinelos e os pijamas surrados.
Aos homens prefiro os lobos
se não...
prefiro estar só.
Dr. Tomazelli

A raiva.

Observações a cerca da experiência de raiva


Por que a raiva é algo muito comum de ser sentido?

Partindo desta pergunta, sugiro:
O comportamento hostil é mais simples que o comportamento amoroso, logo, mais freqüente. O gesto hostil requer apenas uma via de descarga, que é o agir. O ato, a ação são próprios pra isto. Mexemos os músculos e nos livramos da tensão imediata acumulada – a inteligência ajuda a disfarçar a brutalidade maquiando a atitude manifesta. Por exemplo, a criança xinga a própria mãe. A mãe, para não revidar a brutalidade do filho, engole o sapo da raiva que ele lhe despertou e finge que o ama, mesmo que ele seja um estúpido com ela. Pronto, esta feita a confusão! Ela fica desgastada pelo trabalhão que teve para conter-se, e o garoto, que faz vista grossa para o que ele mesmo fez, fica impune e equivocadamente cheio de razão, ao supor-se certo, 'cheio de razão'. Aí mora o perigo.
O agir de supetão ou de impulso não precisa da ajuda do pensamento. Infelizmente os atos agressivos são menos evoluídos que os que envolvem respeito, consideração, solidariedade. Podem evoluir em maldade, não em inteligência. O pequeno exemplo acima confirma.
Temos raiva à toa de qualquer coisa que nos desorganize ou nos retire da chamada área de conforto – isto é, a área de não surpresa! Qualquer frustração - ou falta - é suficiente para exigir de nós operações tantas e tão complexas que, para acessarmos esse nível, deveremos fazer um enorme esforço de adiamento e de contenção emocional. Além do que, a espera é uma experiência muito difícil para todos nós. Saber aguardar, ter maturidade para permanecer calmo sem saber o que se está vivendo, ter serenidade para observar o que está acontecendo ao redor, e paciência para formular pensamentos úteis ao invés de fantasias que substituam a realidade; são comportamentos que exigem muito de nós.
Quanto mais infantis somos, mais raivosos, mais desrespeitosos, mais toscos e mais truculentos. Quanto mais fechados em nosso narcisismo menos sentido o outro humano tem, poém mais medo ele gera. Nossa bondade, mesmo a mais genuína, está sempre carregada de impulsos negativos para os quais não temos explicação. Os psicoterapeutas sabem muito bem disso, e é exatamente por esta razão que os tratamentos não progridem ou terminam de forma abrupta. A raiva às nossas falhas nos dificulta o desenvolvimento que deveríamos realizar para curá-las. Olha só o paradoxo!
Somos dominados por coisas aparentemente tolas porque, apesar da nossa criatividade e da incomensurável inteligência de que dispomos, somos tolos, mesquinhos, invejosos, pobre de espírto, menores; e, além disso, desenvolvemos um amor pelo nosso ego feito todo de arrogância que cultiva diariamente a nossa "negra flor de ódio".
Só mesmo pensando como Freud pensou o narcisismo, compreenderemos que temos uma relação sensual e passional com nosso ego. Somos auto-apaixonados. Desejamo-nos mais que a qualquer um, estamos cegos ao outro, pois a autoconservação nos demanda olharmos somente para o nosso 'eu'. Mesmo que não façamos nada que aparente amor por nós, somos auto-devotados. Teimosos, renitentes, somos metódica e precisamente sempre nós mesmos, e impomos nossas regras ao outro, e, se esse outro não as aceita, impomos a ele o nosso desamor, o nosso ódio, o nosso rancor, a nossa traição. Fingimos que vamos negar-lhe o que nunca tivemos para dar. É mesmo contraditório!
Para lidar com a raiva e os sentimentos agressivos... Bem, isso exige, exige de nós muito esforço e muita vontade de trabalhar.
Geralmente o medo e a tristeza ajudam-nos a ficar mais amorosos, menos arrogantes, menos imortais, mais perecíveis e efêmeros. Curiosamente esses sentimentos mais delicados, mais densos e mais profundos nos ajudam a sermos menos destrutivos e a raiva diminui ou, minimamente, se abranda. Para lidarmos com a raiva, a única via madura possível, é a de querermos dar aos outros o melhor de nós mesmos. Sem essa trabalhosa busca de oferecer o melhor, nada feito. E, para isso, há somente um caminho: não dar respostas de impulso. Não reagir e justificar a reação como adequada dizendo que o outro fez o que fez, e, portanto, 'eu só respondi!' Temos que buscar o amor, que é todo falho, mas que é o amor! Como nos diria Sponville: "é o amor o que nos salva". Desenvolvermos a fé em fazermos de nós o que de melhor pode ser feito é darmos o melhor de nós, e, para que isto nos possa fazer melhores vidas, o melhor que fazemos é dar o que temos de melhor. Isto, certamente, nos fará melhor!!
Dr. Tomazelli