sábado, 15 de agosto de 2009

Paul Auster

“É também verdade que essa recordação às vezes vem até ele como uma voz. É uma voz que fala dentro dele e não é necessariamente a sua voz. Ela fala para ele do mesmo modo que uma voz conta histórias para uma criança, e, no entanto às vezes essa voz zomba dele, ou chama sua atenção, ou o xinga com expressões nem um pouco dúbias. Às vezes ela distorce de propósito a história que está contando, altera fatos para os adaptar a seus caprichos, zelando mais pelo interesse do drama do que pelos interesses da verdade. Então ele tem que falar com ela com sua própria voz e mandar que pare, e assim a faz voltar ao silêncio de onde veio. Em outras ocasiões, ela canta para ele. E em outras ocasiões ainda ela sussurra. E também há ocasiões em que ela se limita a gemer, ou balbuciar, ou chorar de dor. E mesmo quando não diz nada, ele sabe que ainda está ali e, no silêncio dessa voz que nada diz, ele espera que ela fale.” (Auster, p. 139, 40. 1999)[1]
[1] Auster, Paul A invenção da solidão. Tradução Rubens Figueiredo. São Paulo, Companhia das Letras, 1999.


Dr. Emir