sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Homossexualidade.

Homossexualidade

Uma idéia bem simples. O corpo não é bissexuado, é sexuado. Feminino em um caso, masculino no outro. Mas é algo inacabado ou incompleto, está sempre aberto para o outro. Está obrigado ao outro. Não é questão, é convite. Convite à vinda daquilo que falta, do outro já esperado em sua lógica, em seu vazio a espera de complementação.
Certo, ele é sexual, mas também é erótico, tanto quanto é real. Não é "bi"-sexual. Não está em busca de um gênero, ele - o Benedetto corpinho - é um gênero.
Com ele podemos fazer a farra que quisermos, brincar, abusar dele ou não usá-lo para nada além da autoconservação. Isto não está prescrito, é de cada um, e, assim sendo, o destino do corpo corre por conta do freguês, portador desse corpo.
Melanie Klein nos faz observar que psicossomaticamente meninos são meninos e meninas são meninas, salvo raríssimas exceções onde o físico se compôs de modo inesperado e alterou sua lógica.
O corpo ser sexuado tem enormes conseqüências psíquicas. Estruturais mesmo, eu diria. As lógicas dos dois tipos de corpo são distintas. A lógica dos gêneros é distinta. A feminina: receptiva. A masculina: intrusiva.
Não se deve confundir o corpo com a pulsão. Um é sexuado, a outra está a espera de uma forma que ela vai receber do objeto. Isto é, o corpo já é, não aguarda autorização para ser. A pulsão não, ela está em busca de um destino e de um significado que a oriente naquela direção para receber uma forma.
Por outro lado, Freud nos propõe que a forma se deriva do prazer ou do alívio que um objeto proporciona e não da ‘forma’ que oferece. É por isso que o corpo não tem significado definitivo em sua obra.
O que ele propõe é que a pulsão é uma abertura ao que o prazer desejar. Não há nada prévio prescrito, se erotizada, receberá uma forma derivada da identificação com o objeto que dá prazer.
Freud dá espaço para a construção da sexualidade por uma perspectiva que desconsidera o fato corporal. Em sua lógica, isola-o completamente, uma vez que considera a pulsão como sendo livre para tomar a forma que “necessitar” desde que essa forma ofereça prazer e descarga. Se o objeto oferece isto, ótimo! Eis aí a forma a ser tomada.
A pulsão é que toma a forma de um gênero e se sexualiza. Isto é, o sujeito escolhe um objeto de identificação, e, a partir daí um gênero, que é o gênero do objeto tomado por identificação. Esta sexualização por identificação é que define o gênero do sujeito. Bem... As teorias estão ao gosto de cada um.
Porém chamo a tua atenção leitor!
(1a) Há sujeitos onde o desejo mais forte não está no objeto que vem acalmá-lo. O desejo mais forte é o de desrespeitar o dado trazido pelo real (corpo) submetendo-o a uma outra lógica – perversa ou psicótica - que obriga a inversão da tendência a que o próprio corpo impõe;
(2a) Há sujeitos que não tendo identidade construída, seja por que razão for, confundem a exposição pública de uma pantomima homossexual com a própria homossexualidade; confundem uma campanha publicitária sobre uma mercadoria física, com a capacidade de sermos verdadeiros e enfrentarmos nossos paradoxos. Não, pelo contraio, não há nenhuma contradição em jogo, tudo é escolha e desejo, e, baseados nisto, fazem campanha pública fazendo uma passeata que prega o orgulho ‘gay’.
Qual será o valor disto?
Exaltar o que é obrigação não tem valor. Que cada um faça com seu corpo o que mais lhe apeteça, que cada um que siga a sua tendência, não há nada de especial nisso. A necessidade de se viver em contradição é a melhor manifestação da questão da homossexualidade. Fora disto caímos no vazio do espetáculo e na falsa discussão que é do gênero que falamos. Ao invés disto, melhor partirmos da questão da psicose e não da sexualidade. É de loucura que falamos e não de sexo.
Defeito grave de caráter daquele que deve argüir-se sobre a insanidade e resolve argüir-se sobre um ramo colateral e sem importância. Nesse buraco se confunde proselitismo e ostentação com oposição política. Por vezes me pergunto: para que haja um orgulho gay, qual seria mesmo o orgulho de ser hétero? Haveria, de fato, algo para se orgulhar das coisas que dizem respeito ao nosso corpo ou das que fazem uso dele?
O que inquieta, para pobres diabos como nós que nos sexuamos á moda antiga feliz ou infelizmente, é que alguém tenha uma incapacidade de reconhecer a identidade primária vinda tatuada no próprio corpo, por não poder construí-la psiquicamente - demonstrando não ser capaz de suportá-la e menos ainda de reconhecê-la. Isto é psicótico. É como desejar não ser o que se é.
De modo algum se está falando de sexo, nesta linha de pensamento do que se trata é partir da hipótese que o real pode ser escolhido, alterado e refeito ao bel prazer do maluco que dirige sua mente, basta que eu mude tudo com as próprias mãos. Meu deus, para onde vamos?
Na primeira, o sujeito constituído encara e sustenta um desejo que ultrapassa a norma feroz que o corpo dita. Na segunda, o sujeito não chegou a ser, e diz que, o que é, é o ser homossexual que ele julga que pode ser como se fosse sua própria vontade.
Aí temos problemas que oscilam entre o sujeito desejante e o sujeito não constituído. Falta, tanto a um quanto ao outro construir o sujeito triste (homossexual ou não). Aquele que vive seu gênero em seu próprio silêncio, em sua própria alegria e dor, e da forma que lhe é possível no dia em que se encontra.
Aos que desconsideram esta possibilidade e que não estão constituídos de forma a dar conta das contradições, estes jamais poderão ser inscritos no campo dos homens que ‘escolheram’ para si a vida que julgaram ser a melhor para eles. Sem uma boa pitada de tristeza, sem sujeitos capazes de entristecer e compreender o que são pela via dos fatos observados, acolhidos e transformados em condição de existência e conhecimento, não há como ser alguma coisa. Se o que os homens estão propondo com sua homossexualidade é uma nova forma de ser, a mim esse ato não passa de a uma proposta ideológica e psicótica que quer impor ao homem que o corpo pode ser aquilo que o mesmo não certifica e/ou possui!
É isso aí!

Dr. Tomazelli