Em busca da verdade – mesmo porque, em nós, esta também é um impulso[1] (p. 147) -, não temos como voltar, nem temos como nos deter diante daqueles que nos escapam das mãos, porque nós ou eles já não podemos esperar mais, ou porque a vida vai muito além do que podemos compreender e pensar; nem também podemos tomar as providências necessárias que nos possibilitariam acompanhar um ritmo caso assim fosse necessário. Aqui também a morte revela o quanto, por antevê-la sem que propriamente saibamos o que ela é, podemos desejar deuses sem alma que possam aplacá-la. Os conjuramos, talvez, porque tenhamos a experiência dessa morte como culpa nossa, nosso poder. Ou talvez porque por ela gere uma aflição que não cessa com nada, e é imensa. Por isso é que deixamos pelo caminho tantos daqueles que amamos, e que nunca pudemos ter e cuidar completamente. Os deuses maus estão aí a nos rondar e a cobrar por nossos crimes, mesmo que só na mente cometidos, e que mesmo assim foram muito bem declamados, por John Milton, nos primeiros cantos de ‘Paraíso Perdido’, pelo qual nos faz ver quando no início se refere aos exércitos dos anjos caídos. Mas como nada disto basta e nem cede à onipotência das defesas paranóides, também precisamos dos deuses bondosos, aqueles que nos querem bem e anseiam por nós, só não sabem como nos ajudar em vida. Que lástima!
Dr. Emir
[1] Grotsetin, James S. Um facho de intensa escuridão – o legado de Wilfred Bion à psicanálise. Tradução de Maria Cristina Monteiro. Porto Alegre: Artmed, 2010.
quinta-feira, 6 de maio de 2010
Deus e a incógnita
A questão da que se trata quando se fala de um impulso para o morrer, é a mesma que fala que a morte é aquilo que nos cabe, uma vez que ela é o fato intransponível com que cada um de nós tem que lidar, e aceitar o que ele desperta de dor, interrogação e de inesperado. É no ‘morrer por nada’ que se acentuam os mistérios ligados aos mitos que nos compreendem e nos explicam. É por isto que não poucos autores que estudaram o homem, nos pensaram como se fôssemos um remanescente da história de outros homens. Mas isto não importa, mesmo porque a reverência aos deuses é diária, e é feita claramente na tentativa de evitar que a incógnita progrida até não puder mais ser formulada. Ou seja, deus é uma resposta insatisfatória que satisfaz plenamente, já que o impulso para a ilusão ('a vontade de engano' nietzschiana) é capaz de deter nossa questão sem lhe oferecer resposta que se aproxime da verdade.
Dr. Emir
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