a)Se a tragédia é a repetição do acaso (Garcia-Roza)[1], em Klein, essa afirmativa, sofre uma torção minimamente curiosa, porque o trágico estará antes da repetição do acaso, isto é: no futuro. Klein introduz um movimento defensivo novo, e que se refere às tentativas psíquicas de gritar com a mente, antes de sabermos fazê-lo com a boca. Na obra kleiniana se percebe que o grito, antes, está na mente e, dessa mesma mente é lançado para outra mente que está no futuro. A torção temporal indica que o grito é lançado no fluxo do tempo que há de vir. Percebe-se também que, esse grito já dado, demora mais do que se pode suportar, para chegar a um corpo capaz de agir e dar sentido e direção para o problema que se coloca. Então o recurso ao grito é feito apenas pelo uso de um tipo específico de transferência psíquica, a transferência psíquica de minha paixão em grito. Teletransporte de dor sem nome: projeção psíquica de grito. Grito projetado no futuro da mente da mãe.
a1)Forço-me para dentro do outro para que ele dê conta de meu desespero, vindo me atender antes que eu possa formular por mim mesmo o meu pedido. Formulo meu pedido dentro do mundo interno do objeto e ele reage sem saber por que, fazendo em mim aquilo que eu não pude sequer pensar. É a isto que Klein chamou de ‘identificação projetiva’.
a2)Paixão narcísica veiculada pela força da projeção que promove uma transfusão de angústia sem nome para outra mente que se encontra no futuro. Projeção que chega a remeter o grito - e o próprio eu que grita (com seu grito) - para o futuro, dentro da mente da mãe, antes que ele aconteça, antes que ele possa ser pensado em mim e em mim executado.
a1)Forço-me para dentro do outro para que ele dê conta de meu desespero, vindo me atender antes que eu possa formular por mim mesmo o meu pedido. Formulo meu pedido dentro do mundo interno do objeto e ele reage sem saber por que, fazendo em mim aquilo que eu não pude sequer pensar. É a isto que Klein chamou de ‘identificação projetiva’.
a2)Paixão narcísica veiculada pela força da projeção que promove uma transfusão de angústia sem nome para outra mente que se encontra no futuro. Projeção que chega a remeter o grito - e o próprio eu que grita (com seu grito) - para o futuro, dentro da mente da mãe, antes que ele aconteça, antes que ele possa ser pensado em mim e em mim executado.
a3)De algum modo o que Klein está tentando propor é a idéia de que eu possa fazer uma repetição vir do futuro[1] onde ainda ela não aconteceu, usando a projeção da mesma na mente do objeto, obrigando o objeto a cumprir o seu destino trágico já designado pelo bebê-profeta, que na profecia anteviu o desastre, e o arremeteu para o futuro, que agora se atualiza nos gestos do objeto no presente.
a4)A tragédia agora está inoculada na musculatura do objeto tomando-o, possuindo-o e fazendo-o agir precisamente da forma que deveria ser evitada. Não há sadomasoquismo mais perfeito. Uma espécie de didática perversa, que ‘ensina’ ao objeto - em sua dimensão outra, em seu tempo que também é outro - como agir, de forma tal que confirme, que o eu que realizou a ‘identificação projetiva’ receba de volta, cruelmente, tudo que se empurrou para dentro dele no futuro.
a4)A tragédia agora está inoculada na musculatura do objeto tomando-o, possuindo-o e fazendo-o agir precisamente da forma que deveria ser evitada. Não há sadomasoquismo mais perfeito. Uma espécie de didática perversa, que ‘ensina’ ao objeto - em sua dimensão outra, em seu tempo que também é outro - como agir, de forma tal que confirme, que o eu que realizou a ‘identificação projetiva’ receba de volta, cruelmente, tudo que se empurrou para dentro dele no futuro.
a5)É lançando mão do recurso da projeção de minha própria identidade no futuro, e lançando com ela meu grito nas ações futuras do objeto, que empurro ao meu mim incompreensível para o interior da mente desse objeto que me espreita e me atende. Assim fazendo, posso trazer do futuro um evento traumático, que vinha em minha direção partindo do meu passado.
[1] GARCIA-ROZA, Luiz Alfredo. – Acaso e repetição em psicanálise: uma introdução à teoria das pulsões, Rio de Janeiro, Jorge Zahar editores, 1986.
Dr. Emir
[1] GARCIA-ROZA, Luiz Alfredo. – Acaso e repetição em psicanálise: uma introdução à teoria das pulsões, Rio de Janeiro, Jorge Zahar editores, 1986.
Dr. Emir