terça-feira, 27 de janeiro de 2009

cemitério de almas.

Clientes perdidos indicam ter havido problema de espaço.
O espaço psíquico é sem tamanho. A doença mental o faz pequeno e nos localiza encarcerados nesse ínfimo ponto que é a loucura.
A sala de atendimento pode ser ampla, mas em verdade é tão apertada ou tão larga quanto a loucura e a saúde de cada um dos participantes.
Há pessoas que se afligem por ficar nesses cubículos - ou nos espaços infinitos e em expansão - por muito tempo e se vão. Partem, porém, antes do tempo que lhes seria próprio partir, não querem ou não podem pensar sobre o que se passa com eles; partem apressados, esquecem das roupas, dos seus objetos pessoais, de pagarem as contas, de te avisarem que saltam na próxima parada. Estão aflitos, com os músculos pedindo ação, descarga rápida, algo que alivie...
Para eu que fico, deixam ‘um resto não resolvido’ em mim. Algo que abandonam em minh’alma e nunca mais voltam para pegar.
Tenho esses clientes/resíduos guardados em um enorme cemitério mental.
Visito-os para trocar as flores sistematicamente, para algumas conversas e, eventualmente, para acertos de contas que não se esgotam.
Relembro de nossos diálogos. Repito-os tentando refazê-los de modo a que eu os sinta melhores do que quando os fiz diretamente, e por vezes percebi que não os devia ter feito.
Volto para atender os vivos.
Estes também poderão vir a habitar o cemitério, o campo de luto, os sítios do inacabado e do inacabamento.
É triste vê-los partir. Mais triste ainda velar por eles.
Mas... Ossos do ofício.
Dr. Tomazelli

Um comentário:

fabiana disse...

Emir,
Não é interessante, nem engraçado, nem legal!É trágico!E de uma tragicidade tocante que só sendo um poeta sensível para transmitir.Me tocou profundamente!
Fabiana