domingo, 15 de fevereiro de 2009

Mais um poema, uma oração a mais!

Aquele que vaga

para aquele que vaga
no deserto do vazio
enquanto atravessa da casa para o trabalho
não lembra que o galho seco da caatinga onde transita,
se resvalar no olho do cabra ele mesmo,
fere-lhe a retina.
(corre de olho fechado, meu rapaz!
o muro, já sem reboco, te aguarda.
quer transformá-lo no verme que habita a fissura do tijolo e o miolo da argamassa)

quando a pessoa se perde
por vezes vai atrás do rabo.
assim só descobre o rabo como o motivo de sua desgraça.
(pobre diabo que se supunha prontinho e que nada mais lhe fosse acontecer de mal!
Depois ouve vozes:
“Eu lhe disse!”
“Eu lhe avisei.”
“Eu sabia.”
“Eu tinha visto que não iria dar certo.”
“Só você mesmo para acreditar nisso.” “É um banana.”
“Um homem, lúcido, não dá o passo maior que as próprias pernas.”)

meu deus? que cheiro úmido havia no porão da casa dos meus avós!
que excitações, que medos.
mistérios e bichos rastejantes dos quais sempre me mantive longe. um estranho odor de gás. mas ninguém buscou o suicídio através dele. foi o câncer mesmo que lhes fez o serviço.
nunca me imaginei crescendo. nunca me imaginei capaz...
não havia como formular essa pergunta naquele tempo, naquele início. tudo corria sem perigo ou problema.
afinal nasci de meu pai e isto, por si só, já bastaria...
mas... como minha mãe tinha medo dele, escapei de ser assassinado por ambos! foram mutuamente vigilantes e me protegeram de los odios suyos,
mas não escaparam um do outro sem se maltratar bastante. e isso é assim até hoje.
a vida correu, e eu corri um sem número de vezes fugindo do chinelo e da cintada!
levei algumas, me safei de algumas.
lá se foram os anos por baixo da ponte sobre a caudalosa correnteza...
e aí só foi nascerem os filhos... e... meu deus! um único solavanco e
a carga imensa pelos ares e o desespero para mantê-los vivos...
tentei mas...
tudo foi cedendo ao nada.
e as visitações aumentaram em número e tamanho
e os fantasmas se apossaram também do dia, porque a noite já era deles,
e a vida passou a ter que caber em um aposento a menos... mais exígua, mais asfixiante.

15/02/2009
emir tomazelli

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