“Tais objetos, sejam internos ou externos, são na verdade objetos parciais, sendo predominantemente, embora não exclusivamente, aquilo que denominaríamos de funções e não de estruturas morfológicas. Este fato não é percebido em razão de o pensar do paciente (ou do bebê) ser regido por objetos concretos, tendendo, assim, a produzir, na mente sofisticada do analista, a impressão de que a preocupação do paciente é com a natureza do objeto concreto. A natureza das funções que excitam a curiosidade do paciente é investigada por este último através da identificação projetiva. Os seus sentimentos, vigorosos demais para serem contidos no interior de sua personalidade, estão entre essas funções. A identificação projetiva lhe possibilita investigar seus próprios sentimentos dentro de uma personalidade vigorosa o bastante para contê-los. A negativa ao uso deste mecanismo, seja pela recusa da mãe (ou analista) em servir como receptáculo dos sentimentos do bebê, ou pelo ódio e inveja do paciente que não pode permitir que a mãe exerça essa função, leva a destruição do elo de ligação entre o bebê e o seio e consequentemente, a uma grave desordem do impulso de ser curioso, de que depende toda a aprendizagem. Está preparado, assim, o caminho para uma grave parada do desenvolvimento. Além disso, graça à recusa ao principal método de que dispõe o bebê para lidar com emoções por demais vigorosas, a conduta da vida emocional, de qualquer forma um sério problema, torna-se intolerável. Em decorrência disto, os sentimento de ódio voltam-se contra todas as emoções, inclusive o próprio ódio, e contra a realidade externa que os estimula. É um pequeno passo, do ódio ás emoções até o ódio à própria vida... este ódio redunda no recurso á identificação projetiva de todo o aparelho psíquico, inclusive do pensamento embrionário, que forma o elo de ligação entre as impressões sensoriais e a consciência. A tendência à excessiva identificação projetiva, quando predominam os instintos de morte, é, assim, reforçada. (p. 98, Bion, W. R, 1988)[1]
...
O distúrbio do impulso à curiosidade, de que depende toda a aprendizagem, e a recusa ao mecanismo pelo qual este impulso busca expressão, torna impossível o desenvolvimento normal. Uma outra característica se impõe se o andamento da análise for favorável, os problemas que em linguagem sofisticada são postos em perguntas ‘por quê?’ não poderão ser formulados. O paciente parece não ter apreço pela causação e queixar-se de estados de espírito dolorosos, ao mesmo tempo em que persiste numa série de atos destinados a gerá-los. Portanto, quando surgir material apropriado, deve-se mostrar ao paciente que ele não tem interesse no porquê de se sentir assim. A elucidação do escopo limitado de sua capacidade resulta no desenvolvimento de uma maior amplitude e uma incipiente preocupação com causas. Isto redunda em certa modificação de conduta, que, por outro lado, prolonga a aflição.” (idem, p. 99)
[1]Bion, W. R. ,(1897) Estudos psicanalíticos revisados. Tradução de Wellington Marcos de Melo Dantas. RJ:Imago Ed., 1988.
Dr. Emir
segunda-feira, 6 de julho de 2009
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