Há dias que me sinto na obrigação de refletir e considerar que nossas chances de sanidade são enormes. Temos que aceitar os novos desafios afetivos e sofrê-los. Pelo que observamos na clínica, quando um cliente se desenvolve e cresce, ele acaba por reconhecer que, na vida mental, sempre é, e sempre há, tempo para mudar. Mesmo que seja um instante antes de se lançar no abismo da insanidade, há ainda oportunidade para enfrentar nossa própria psicose.
Penso que alguém pode querer pensar:
“Se eu matar a todos os que eu temo, sem jamais amá-los, respeitá-los e desejá-los, vou cair no esquecimento e desaparecer num mundo sem uma memória, sem um passado que possa referir-se a mim.”
Se, neste instante, alguém puder pressentir o profundo isolamento, e solidão, creio que esse alguém possa ter coragem e pensar que vale a pena se arriscar e fazer um vínculo afetivo com alguém.
Se arriscar a conhecer o mundo simbólico, mesmo sabendo que tenha que aceitar também o risco de ser portador dessa engenhoca que chamamos psiquismo, e mesmo que isto signifique o preço de sentir tristeza e dor por amarmos alguém, mesmo assim, ainda assim, mesmo que isso aconteça... seria bom que alguém pudesse dizer: vale a pena se entregar, vale a pena pertencer à teia de interdependências da vida emocional, e considerar razoável e muitas vezes boa, a insuportável relação conosco mesmo e com o outro, e lutarmos, decididos, para que isso seja sempre superado do melhor modo possível, e que possa ser expresso como um estado de viver-se em busca de self suficientemente bom. E por que não?
Dr. Emir
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
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Um comentário:
Querido Prof. Emir,
Sinto falta de suas aulas, suas reflexões sobre a coragem de se "jogar no divã" me fez pensar na seguinte frase de Foucault: "(...) Pais, não receeis levar vossos filhos à análise: ela lhes ensinará que, de toda maneira, é a vós que eles amam. Filhos, não vos queixeis demais de não serde órfãos e de sempre encontrardes no fundo de vós mesmos, vossa mãe-objeto ou o signo soberano do Pai: é através deles que tendes acesso ao desejo." (Foucault, In: História da Sexualidade: a vontade de Saber, 2003, p.106).
Beijos saudosos
Marina Segnini
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