quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Donald Meltzer - a experiência estética

Donald Meltzer fará diversas incursões nessa área junto com Meg Harris Williams (1994, Imago) para falar da cognição pela via da apreensão estética do mundo. A teoria aponta para uma lógica que atesta: a curiosidade gera desespero porque, ao senti-la o homem intui ou prevê que é mau. Isto é – logo depois da percepção que a potencia de destruição da beleza do mundo é apreendida pelo próprio sistema sensorial-simbólico do sujeito, há um corte abrupto entre nós e o objeto em sua beleza. Todo o ego regride e fica esquizo-paranóide, quando já estava apto a ser depressivo. Em algumas palavras, o que ele pensa - e Klein também -, é que para suportarmos a beleza do outro e do mundo que nos circunda, é necessário “uma dose de tristeza” que nem todos podem viver. Tristeza que permite que as ‘coisas’ tenham peso e significado profundo. Tristeza que ensina que, se tivermos calma e capacidade para sentir dor sem agir, talvez possamos perceber que a captura do belo ou que a apreensão da beleza - e o êxtase que os segue – possam ser experiências que tragam a fortuna e a alegria de viver, uma vez que remarcam e explicitam o espanto e o encanto, a ignorância e a descoberta, o desamparo e o acolhimento que um ser humano pode oferecer ao outro. Uma vez que esta tristeza enfim desvela o paradoxal encantamento/terror que um humano vive diante do poder do objeto que, de fato, está vivo e com apetite para nos acolher e ensinar.
É contra a experiência do belo que lutamos, de tal forma que não queremos considerar a força ‘realística’ que o contato ‘realístico’ com a presença necessária da mãe pode nos proporcionar. Será a tristeza aquilo que facilitará o encontro do sujeito com outro sujeito fora da autoconservação. Será o outro, quando elevado a amor perdido, que se transformará no anfitrião/tradutor à altura de quem chega e “depende de mim para tudo”. De alguma forma é a isto que se evita conhecer, mas é isto que nos faz humanos.


Dr. Emir

Um comentário:

debora Terriani Laera disse...

Adorei teu pensamento sobre a captura estética. Você tratou de uma forma muito profunda algo que sentimos e não sabemos nomear. Muito interessante professor.
Débora Terriani Laera
"sempre" presente. ly