terça-feira, 30 de junho de 2009

Mentiras, boatos e fatos.

Klein, na verdade, percebe que o significado do mundo é interrompido por defesas que são anti-significado; percebe que há uma procura por evitação do efeito de turbulência que a presença do outro gera - principalmente quando se toma a consciência de sua necessidade absoluta -, e entende que isto incita o desenvolvimento de uma esquiva carregada de ódio contra o signo de humanidade, que há na relação de reciprocidade espontânea entre os elementos da espécie humana.
Crê que o aparelho se protege de fazer vínculos de sentido, que signifiquem ‘elos de ligação’ lógicos, e também que tenham um valor de compromisso, acrescidos de um forte tom de responsabilidade. Ela entende que o sujeito não quer ter o trabalho de mergulhar no mundo, nem nos sonhos, nem nos fantasmas que implicam a posse desse instrumento ao que chamamos de psiquismo e de sua hiperconectividade. Há sofisticado desenvolvimento de defesas anti-humanas, e, a partir destas, qualquer movimento de produzir significados (vínculos) que nos liguem ao mundo, estes são, devidamente, digamos, “desincentivados” pelo uso de um sistema que dispara boatos como sendo fatos e controla a mente com mentiras e moralidade.



Dr. Emir

Inveja: hipótese I

Inveja pode querer dizer "eu não suporto ver". É ódio de sentir desejo. Certamente a curiosidade é um alvo bom para a inveja, uma vez que é sua exata inversão: na inveja eu descubro para destruir, não para conhecer; na curiosidade mantenho relação intensa com a depressão de não ser meu o que eu desejo, mas esta relação não destrói meu vínculo com o obejto, com o qual eu posso ainda manter uma relação de descoberta, esperança e, de lambuja, reconhecer dependência, quando não, necessidade.



Dr. Emir

domingo, 28 de junho de 2009

Relações objetais: a psicose edípica!

Klein descreveu um tipo de vínculo com o conhecimento e com os objetos, que mais lembra os vínculos expressos nas violentas imagens literárias contidas na tragédia grega, mormente na esquiliana, onde a pantomima é carnal, cheia de fluidos, de muco, de brutalidade derivada da víscera. A Orestéia é um exemplo – Orestes, o herói - filho de Agamêmnon - mata a mãe para vingar ao pai, por este ter tido seu sangue derramado por ela.
Este Édipo fundava uma nova categoria psicopatológica: a ‘psicose edípica’! Édipo com ambivalência e coloridos homossexuais, assassino, justiceiro, sedento de sangue e certeza moral. Por si só, isto dava outra configuração ao drama vivido no âmago da vida familiar.
Os quadros estudados em seus livros - Erna, Dick, Richard - assemelhavam-se à neuroses obsessivas graves, com rituais severos, ou aproximavam-se dos quadros de perda de identidade, terrores e afastamento emocional da realidade, isolamento e angústias que não poderiam ser propriamente qualificadas como neuróticas, tal era a precocidade havida nas manifestações dos distúrbios que essas crianças apresentavam.
Começavam as patologias da infância, e uma nova era teórica. Chegávamos agora às “psicoses obsessivas”. De alguma forma Klein já intuía que não eram suficientes as definições produzias pela “neurótica[1]” de Freud para tratar do problema como ela o via. Essas crianças não poderiam ser tomadas como neuróticas, uma vez que seus sintomas estariam mais próximos das manifestações das desordens psicóticas ou de desordens sugeridas por quadros onde houve uma forte detenção do aprendizado e do crescimento, mas, o que mais lhe atraia era perceber que, de qualquer forma, a infiltração da insanidade, fosse qual fosse o nome dado ao estado psicopatológico, já estava lá. E a parada no desenvolvimento, também, ali já se anunciava como solução sem pensamento.


[1] Neurótica = a teoria das neuroses.



Dr. Emir

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Conhecimento em Klein

Conhecer envolve ter nascido, e suportar a lógica geométrica do triângulo. É a crença de Klein. Aprendizado é a transformação metafórica do coito, da fecundação e do nascimento, é a realização do vir à luz, que é ao mesmo tempo tomar uma forma, materializar-se. Esse nascimento não é menor do que uma primeira organização lógica de um sistema virgem.
Porém, virgem ou não, o sistema tem que estar preparado para reconhecer que curiosidade envolve vínculo, e vínculo - dentro da lógica freudiana que Klein adota - é coito, e coito envolve associação, que envolve ser de companhia, que envolve ser só, que envolve luto, e que para alguns bebês é dor sem limite, cruel e triunfante. Daí, alguns desses pequenos muito cedo se disporem a ficar psicóticos. Triste fim, pior ainda a escolha da meta e o meio.
Mas, de alguma forma sabemos, o quanto a insanidade compensa, não?
Dr. Emir

domingo, 21 de junho de 2009

Complexo de Édipo primitivo

Imaginem as dimensões emocionais de um complexo de Édipo vivido e experimentado com os recursos de um bebê de três meses de idade! Klein de alguma forma chegou ao mais simples, ao mais básico. Pos em palavras aquilo que é apenas uma apavorante sensação de estar sem armas maduras em meio a um festim totêmico, onde tudo o que está sendo produzido vem a ser destruído no mesmo momento em que nasce. Festim sem sobras, devoração e auto-devoração. Tudo nascido, tudo morto. Ela também quis nos chamar a atenção para a forma de representação que existe aí nesse “habitat” do psíquico. Ela deu ao “isso” uma cena e um lugar, lugar onde são formadas as fantasias primitivas de gozo sem limites e de destruição completa: luxuria, depravação e morte. E mais pra que? Certamente a morte vem antes de tudo. Sade foi contundente quanto a isto.


Dr. Emir

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Pulsão de morte

De qualquer forma é interessante notar que quando falamos em pulsão de morte, no aparelho psíquico, ela está viva, correto?
É da vida da pulsão de morte que se fala quando se fala de uma pulsão que é de morte?
Curioso, não?


Dr. Emir

terça-feira, 9 de junho de 2009

Masoquismo.

Mas que importa a dor se ela, para não ser sentida, se torna um desejo, e fica mais valiosa nos fazendo julgar que vale a pena sofrer.



Dr. Emir

terça-feira, 2 de junho de 2009

Caminhar no escuro: mais clínica

Caminhar no escuro é condição do trabalho do psicanalista.
Estar sem esperar, mesmo esperando. É outra condição.
Manter-se calmo, mesmo que no íntimo a experiência indique ventos com potencial destrutivo. Outra.
O cliente que falta e não avisa mantém o analista em estado precário de concentração.
Desfoca e desconcentra por indução de comunicação sem palavras, isto é, formulam-se emoções entre as mentes dos indivíduos que roubam áreas de sonho em parceria.
Melancolia e angústias de luto mórbido se avisinham e se expressam por terror no contato.


Emir