A questão da que se trata quando se fala de um impulso para o morrer, é a mesma que fala que a morte é aquilo que nos cabe, uma vez que ela é o fato intransponível com que cada um de nós tem que lidar, e aceitar o que ele desperta de dor, interrogação e de inesperado. É no ‘morrer por nada’ que se acentuam os mistérios ligados aos mitos que nos compreendem e nos explicam. É por isto que não poucos autores que estudaram o homem, nos pensaram como se fôssemos um remanescente da história de outros homens. Mas isto não importa, mesmo porque a reverência aos deuses é diária, e é feita claramente na tentativa de evitar que a incógnita progrida até não puder mais ser formulada. Ou seja, deus é uma resposta insatisfatória que satisfaz plenamente, já que o impulso para a ilusão ('a vontade de engano' nietzschiana) é capaz de deter nossa questão sem lhe oferecer resposta que se aproxime da verdade.
Dr. Emir
Um comentário:
"O paradoxo da existência humana é que nada é tão certo quanto a morte, sobre cujo significado, no entanto, reina a incerteza, a começar pela afirmação de que ela representaria apenas um fim material inevitável. Noberto Bobbio, com cujas ideias tantas vezes coincido, pertence à espécie infeliz dos homens para os quais, após a morte, não há senão il buio, a escuridão. Creio, ao contrário - e é o amor a fonte primordial dessa crença, vencedora de todas as preplexidades racionais-, creio que a alma se desprende do corpo e passa para outra forma de existir, isenta de materialidade e, como tal, mais pura."(REALE, M.; Variações, 2000)
Penso que nesse parágrafo Reale explicita muito bem que sua posição não é satisfatória, que o que pode limita-se ao campo da crença. Sem dúvida traz-lhe 'conforto'. O escapar do 'conforto' é a resposta da escuridão de Bobbio, ao meu ver a única possível.
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