quinta-feira, 6 de maio de 2010

para as moças do terceiro andar e pro moço também!

Em busca da verdade – mesmo porque, em nós, esta também é um impulso[1] (p. 147) -, não temos como voltar, nem temos como nos deter diante daqueles que nos escapam das mãos, porque nós ou eles já não podemos esperar mais, ou porque a vida vai muito além do que podemos compreender e pensar; nem também podemos tomar as providências necessárias que nos possibilitariam acompanhar um ritmo caso assim fosse necessário. Aqui também a morte revela o quanto, por antevê-la sem que propriamente saibamos o que ela é, podemos desejar deuses sem alma que possam aplacá-la. Os conjuramos, talvez, porque tenhamos a experiência dessa morte como culpa nossa, nosso poder. Ou talvez porque por ela gere uma aflição que não cessa com nada, e é imensa. Por isso é que deixamos pelo caminho tantos daqueles que amamos, e que nunca pudemos ter e cuidar completamente. Os deuses maus estão aí a nos rondar e a cobrar por nossos crimes, mesmo que só na mente cometidos, e que mesmo assim foram muito bem declamados, por John Milton, nos primeiros cantos de ‘Paraíso Perdido’, pelo qual nos faz ver quando no início se refere aos exércitos dos anjos caídos. Mas como nada disto basta e nem cede à onipotência das defesas paranóides, também precisamos dos deuses bondosos, aqueles que nos querem bem e anseiam por nós, só não sabem como nos ajudar em vida. Que lástima!

Dr. Emir

[1] Grotsetin, James S. Um facho de intensa escuridão – o legado de Wilfred Bion à psicanálise. Tradução de Maria Cristina Monteiro. Porto Alegre: Artmed, 2010.

2 comentários:

Debora Terriani Laera disse...

Emir, adoro seus posts. Os pequenos então... Vc diz muito em pouco, entende?! Menos é mais !!
Você está no twitter?!

Outra coisa, vc já leu o livro "Contos do Divã" da Sylva Loeb ?! MAGAVILHOSO !!!!!
Bj
Debora - 4o. ano

Anônimo disse...

E por falar em em impulso, em ansiedade e núcleo paranoide, em posiçao esquizo-paranóide...veja a poesia que saiu hoje na folha de São Paulo:

IMAGINAÇÃO
PROSA E POESIA
O cachorro

IVAN TURGUÊNIEV
tradução RUBENS FIGUEIREDO

Nós dois no quarto: meu cachorro e eu. Lá fora, a tempestade uiva, desenfreada, assustadora.

O cachorro está sentado à minha frente -e me olha direto nos olhos.

Eu também olho para os olhos dele.

Parece que quer me dizer alguma coisa. É mudo, sem fala, nem entende a si mesmo -mas eu o entendo.

Entendo que neste instante, nele e em mim, vive o mesmo sentimento e entre nós não existe a menor diferença. Somos idênticos; em cada um, arde e brilha a mesma chama, pequena e trêmula.

A morte virá voando, vai abanar sobre essa chama suas asas frias e largas...

E fim!

Depois, quem poderá distinguir que chama ardeu em cada um de nós?

Não! Não são um animal e um homem que se olham...

São dois pares de olhos idênticos, concentrados um no outro.

E em cada par de olhos, no animal e no homem, a mesma vida assustada tenta se agarrar no outro.


Luciana B Khair- uma das moças do 3o andar