sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Ética.

O luto, e as trágicas dores ligadas, em nossa mente, ao inescapável do acontecimento de nossa própria morte, são um esteio, um possível caminho e uma direção rumo ao aprimoramento de nossa ética e da elevação de nosso ser. A interrupção, o corte, a intransponível cesura que essa mesma morte abre - associada aos rituais que a simbolizam-, são os elementos que fundamentam a presença da pessoa viva no mundo, como também são os elementos da simbolização feita via luto, via perda, via tristeza. Daí a questão kleiniana do estabelecimento de uma ética que nos leva a compreender que só um ‘eu’, em sua própria singularidade, pode responder por si e morrer ao seu modo, sem que nenhum outro lhe faça alguma interpelação ou nisto interfira.
Dr. Tomazelli

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Intuição e psicose!

A intuição, tanto quanto a psicose, acessam o outro, e a qualquer tipo de objeto, por via emocional, isto é: telepática e hipnótica. O tom mais psicótico ocorre quando essa comunicação se torna invasiva e sem mediação. Lembra a invasão dos saqueadores de tumbas e o uso de tecnologias à disposição no mercado. No caso da invasão psicótica, a intenção é o saque psíquico, e isto nos leva a usar uma armadilha hipnótica que segura a presa e uma perfuratriz telepática, que a invade, pega o que “necessita”, e se retira deixando os estragos para aquele que ali vive. No caso da intuição, o procedimento da invasão é benigno; é mais parecido com aquela invasão do herói, que escapa dos lugares que invade, mas sem deixar rastros nem danos... Poderiam ser representados pela figura do arqueólogo, do cientista e do psicanalista.

Dr. Tomazelli

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Cuba, a Ilha cárcere!

Dedico este texto a todos os Renés e a todas as Magaritas que vivem em Cuba!
Los cubanos están muertos!
Conheci Cuba em 2008.
Era um dia de sol.
Na verdade visitei La Habana! Foi em outubro.
Quando me dei conta, percebi-me num lugar que exige daquele que ali vai uma disposição para luta.
Saí de lá ferido.Perdi todas.
Conclui: quem vai a Cuba sai machucado por ela.

Sobrou muito pouco de mim depois que saí. Foi alívio.
(a Ilha toda tem 110.861 km². Os habitantes são 11.382.820, no censo de 2006.)
Curioso!
Olhei, olhei e pensei comigo mesmo depois de ter sido abordado por dois policiais, “en la Plaza de la Revolución”:
- “Estão todos mortos.”
Estão rígidos (apresentam uma rigidez cadavérica), quebráveis... Em uma espécie de semi-sono e se vêem donos de tua vida, docemente patéticos e sem dentes, com a cabeça completamente curtida em barris de castrismo.

É a educação castrista: educação a qualquer preço. “–Aprende, se não eu te mato!”
¡La gran revolución los mató!
Mortos diplomados duas ou três vezes. Mortos simpáticos. Mortos doces... Mortos ladrões, cúmplices, ... garçons, porteiros - en la carpeta!
Putas – muitas - lindas, cobertas por um véu de vazio e desespero, mas portadoras de belíssimas pernas, bundas e peitos apetitosos.
Sexo de todas as marcas, ao seu dispor, no lobby do hotel... (Talvez, tenha sido a única coisa que o regime não pode controlar, porque o resto arrancou de todos, sem nenhum dó.)

Estão encharcados de Run...(e do oro negro – o petróleo que é deles - que querem te empurrar, sempre o mais caro)
Mesmo mortos, falam, cantam e se dirigem a você para pedir alguma ‘coisa’ que lhes aplaque o desamparo e a dura sensação de não vida.
Quando não te querem aceitam alguns CUCs, que podem servir para o mercado subterrâneo.

Depois de Win Wenders e Ry Couder, todos são o Buena Vista Social Club!
Ah!Cuba! A Ilha Cárcere.
Cuba ilha de fantasmas oportunistas, que se agarram à pouca vida que o turista leva consigo.
(Sai-se da Ilha sem vida no bolso.)
Sabem várias línguas, inclusive o russo.
É uma favela imensa e culta... Falsamente culta. O aprendizado puro, sem lucro envolvido, desemboca no mesmo saber "lucrativo" dos meninos baianos que descrevem a Igreja do Bonfim sem saber do que falam... é um silêncio sem fim nessas bocas de tantos santos.

São ‘clowns’? Malabaristas? Andam na corda bamba... pisam descalços nos cacos de vidro das garrafas do destilado que bebem, quando se embriagam nas noites quentes do fim de semana, no Malecón.
Ingerem quantidades enormes de medo ideológico, estão em pânico e nem sabem disto. Hipnotisados, zumbis... mas não morrem de fome... Morrem só de tédio, morrem de submissão...
O estrangeiro que “visita” a Ilha, caminha num tapete mágico que o leva do nada a lugar nenhum.
É um trem fantasma, é um corredor sem portas, é o 'cuban socialism carpet service'.
Na verdade é um brete onde se vacina gente/gado/humano contra o desejo, o sonho e o pensamento vivo rumo à liberdade.

Camisa de força, torpor contínuo, percurso sem rumo, sem chegada... onde der deu.
Mundo falso, cheio de Hemingways bêbados, urdidos em bronze, imóveis, idênticos, com os cotovelos apoiados nos balcões dos bares La Floredita espalhados por todo o país, em imagens holográficas geradas em La Habana...
Em 1959 todos foram soterrados pela maldita bondade de Castro e Che.
Amizade maldita!
Maldito libertador!
Este sim foi o mais violento ‘Happy new Year’, que alguém deu aos cubandos.
Era o começo da era da consternação... e da luta contra o opressor. Só rindo!
(Malditos sejam os bondosos, deles será o inferno de todas as noites de insônia! Malditas sejam todas as revoluções em nome do bem.
Deus me livre ser representado por alguém. Ter alguém que fale por mim... melhor caminhar só. )
Cuba é um mundo especial.
Mortos alfabetizados, com 78,3 anos de expectativa de vida, saúde perfeita... Pobres, cheios de saúde.
Completamente irresponsáveis, mas muito enriquecidos pela amizade que o cárcere gera, pelo amor ao outro que o fundo amargor ajunta e solda, e pelo vínculo com a miséria e as péssimas condições de existência.
Resistem, bêbados, agarrados a cartazes espalhados nas estradas e nas ruas, e que dizem: “Revolución o muerte!”
Ah! Fidel!
Quem é você?
Contra quem lutas?
O que você trouxe aos cubanos!?
Quem são os teus inimigos?
De que revolução se trata?
Libertação dos Yankes?
Ahhhhhrrrrrrrrrrrrrrrrrrhhh!
(... Façam-me o favor.
o que ele deu a eles chama-se desejo. Desejo de morte! Do legítimo. De los puros!
Aí sim temos do que se trata.
E ponto.)


Emir Tomazelli

25/02/2009

Supervisionandos!

Caros,
por favor leiam este texto.
Ele se encontra disponível no sítio:

http://www.estadosgerais.org/encontro/o_laco_de_sangue.shtml

é fudamental para a consutrução pessoal da própria clínica.


prof. Emir

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Pistas para a compreensão da anorexia

1)
Se 'an-orexia', é ausência de desejo, e desejo envolve ter algum prazer... então, me pergunto, de que prazer se fala?
Prazer oral? Calma oral? Alívo oral? Descanso?
Do que isto trata? Que prazer é este?
Prazer que envolve a construção psíquica da boca como um órgão de prazer; ou prazer que dissolve a boca fazendo-a desaparecer?
Qual será o destino do órgão depois de ungido por tal princípio? sua abertura ou seu fechamento completo.
Se n'O Grito' de Edvard Munch, fica claro o efeito daquilo que se expele pela boca, na anorexia, evidencia-se o que ela pode guardar, o que ela pode sepultar.
O desabamento das portas da cidade, o soterramento da entrada e do acesso ao dentro indica colapso e tentativa desesperada de livrar-se do exterior anulando o espaço interno. Não é improvável que a humanidade, em algum momento de sua evolução, tenha considerado seriamente ver-se livre da boca. Ela já foi em algum ponto de sua evolução uma ameaça.
O prazer oral é brutal e pode ser levado às últimas conseqüências transformando-se em encarceramento da boca[1]. Boca lacrada, boca sem entrada. Paradoxo?
A etimologia aponta para um problema no desejo. ‘Orexis’ em grego é desejo. A an-orexis é uma ausência de desejo.
Prefiro seguir outra pista, a da sonoridade, que aponta para a ausência de boca: 'an-oros'. Ausência de orifícios. Ausência de cavidade oral.
Minha impressão é de que é o orifício oral o que está em questão, e não o desejo! O drama aqui se estabelece contra a existência do espaço.

2)
Vejamos as palavras:
oral:
 adjetivo de dois gêneros
1 relativo à boca; bucal
Ex.: higiene o.
2 que se produz na boca
Ex.: som o.
2.1 Rubrica: fonética.
em cuja articulação o ar expirado passa apenas pelo canal bucal (diz-se de fonema, som etc.)
Obs.: p.opos. a nasal
Ex.: consoante o.
3 que se propaga, se transmite pela boca
Ex.: contágio o.
4 que não é ou não está escrito; dito, realizado ou expresso de viva voz; verbal
Obs.: p.opos. a escrito
Ex.:
5 que se transmite de boca em boca; verbal
Obs.: p.opos. a escrito
Ex.: tradições o.
 substantivo feminino
6 prova ou conjunto de provas realizadas oralmente, de viva voz, ger. em complementação à parte escrita
 substantivo masculino
Diacronismo: antigo.
7 véu fino outrora us. por senhoras recatadas para velar o rosto
etimologia:
rad. do lat. os,oris 'boca; linguagem, língua, idioma; rosto, fisionomia; abertura, orifício' + -al; ver 2or(i/o)-
orexia:
 substantivo feminino
1 desejo, vontade de comer; apetite
1.1 Rubrica: medicina.
necessidade ou desejo imperioso e contínuo de ingerir alimentos
anorexia:
a. mental ou nervosa
Rubrica: psicopatologia.
quadro mórbido em que o indivíduo diminui a quantidade de alimentos ingeridos, freq. eliminando aqueles ricos em calorias, por meio de uma dieta rígida auto-imposta, que alterna com crises de bulimia, vômitos ou tomada de purgativos
anoréxico:
adjetivo
relativo a anorexia; anoréctico, anorético
etimologia:

anorexia + –ico; cp. anoréctico e anorético; ver a(n)- e –orexia
orexígeno:
adjetivo e substantivo masculino
Rubrica: farmacologia.
que ou o que estimula o apetite (diz-se de substância ou droga).

3)
Primeiro assentamento:
“Pois o que se encontra em causa aqui – como se vê nas anorexias depressivas-, é a corporeidade mortal do outro, que por sua presença real e manifesta (por vezes excessiva) constitui-se em obstáculo contra o dom de sua substância. Estamos pensando nas anorexias, pois elas possuem o ‘método’, tão fisicamente psíquico, de se alimentar em silencio e sem que o outro saiba, da substância incorporal de seu corpo. A alteridade é causa do sofrimento da existência psíquica, e é essa alteridade promissora que se encontra na fonte da verdadeira dependência e, portanto, da alienação. Dissolver essa alteridade consiste em roubar-lhe o efeito benéfico de sua presença negando seu poder de curar em pessoa.” (p. 117; Fedida, 2002[2])

4)
Segundo assentamento:
“No entanto, no campo da clínica da psicanálise, coube a Harold Searles em um de seus mais instigantes trabalhos (Searles, 1973) nos propor a hipótese ousada de que ‘entre as forças inatas mais poderosas que empurram o homem na direção de seus semelhantes, há desde os primeiros anos e mesmo desde os primeiros meses de vida, a tendência essencialmente psicoterapêutica. Se pensarmos em termos winnicottianos, seria como um concern pré-original, uma espécie de preocupação com o outro anterior à própria constituição do aparelho mental do indivíduo, anterior, portanto, à configuração do próprio.Recordemos que Levinas nos remete ao âmbito do pré-original como sendo o do que expõe uma subjetividade a outra antes mesmo de haver um sujeito, antes mesmo de que se tenha constituído um Eu, com seus atos, suas intenções e suas defesas. O pré-original é a exposição traumática à alteridade, um começo de mim antes de Eu ter começado, e essa nos parece ser uma dimensão decisiva do que estamos denominando de contratransferência primordial.Como se verá adiante, não é necessário nem conveniente interpretar esses cuidados com o outro como emanando de alguma boa vontade intrínseca ao ser humano. Não se trata de samaritanismo, mas de sobrevivência em condições de desamparo em que a dependência em relação ao ambiente é extrema e em que a manutenção dos ‘objetos’ em bom estado e em bom funcionamento é essencial ao indivíduo.
Para Searles, os abusos pelos pais dessa função contratransferencial primária dos filhos e, principalmente, a incapacidade dos pais reconhecerem, admitirem e aceitarem a condição de serem ‘cuidados por seus bebês – o que pode incluir tanto educação como a cura de males físicos e mentais – figuram entre as mais importantes causas dos adoecimentos psíquicos. Há pais e mães, aliás, que reúnem os dois aspectos: exigem tudo dos filhos em, termos de cuidados, mesmo quando são bebês, mas se mostram não educáveis e incuráveis. (...)
No seu lugar as ‘tendências psicoterapêuticas’ precoces ou não operariam (interditadas pelo ódio ou pela inveja), ou operariam muito intensificadas, assumindo a forma de reparações maníacas, pela via das formações reativas. Nos dois casos estariam comprometendo bastante a possibilidade do paciente, ele mesmo, ser cuidado pelo analista, que por seu turno, se sentirá ameaçado em sua posição.” (p. 130; Figueiredo,2003)
[3]

5)
daqui em diante o leitor deve ir sozinho e ver onde chega...

Dr. Tomazelli

[1] François Rabelais, em Gargântua e Pantagruel[1] ("Os horríveis e apavorantes feitos e proezas do mui renomado Pantagruel, rei dos dipsodos, filho do grande gigante Gargântua”)
[2] Fédida, Pierre
Dos benefícios da depressão: elogio da psicoterapia. Tradução de Martha Gambini. – São Paulo: Escura, 2002.
[3] Figueiredo, Luís Cláudio
Psicanálise: elementos para a clínica contemporânea. São Paulo: Escuta, 2003

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Psicanálise: uma leitura trágica do conhecimento.

RESUMO
Tomazelli, Emir - Psicanálise: uma leitura trágica do conhecimento. São Paulo, 1999. 190 p. Tese (Doutorado). Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo.
O objetivo desta tese foi discutir o paradoxo “construção versus inibição” do sujeito do conhecimento, no interior da instituição de ensino e na clínica psicanalítica. Olhou-se para a relação existente entre emoção e conceito e, à luz de teorias psicanalíticas, investigou-se os processos emocionais pessoais e grupais inconscientes que estão envolvidos na passagem do caos para a forma. Se afirmou a relação entre sonho e pensamento, bem como entre conhecimento e depressão. Privilegiou-se a comunicação primitiva – no texto chamada de telepática e hipnótica - ligada aos sistemas defensivos primários como definidos por Melanie Klein. O conhecimento foi caracterizado como experiência trágica e o narcisismo como a impossibilidade de conhecer. Sujeito e narcisismo não se confundem, pois o primeiro, é da ordem da vida, da tragédia e da tristeza cognitiva; o segundo é da ordem da imediatez, da voracidade e da morte. Criticou-se a ideologia positivista do conhecimento, sugerindo-se um outro caminho para compreender a mente: o caminho da irracionalidade e da colagem onírica feita como nos procedimentos freudianos para conduzir uma psicanálise: a associação livre e a atenção flutuante. A base empírica da proposta foi a experiência pessoal do pesquisador no exercício de vinte e três anos de clínica e nos quinze anos de ensino de psicanálise. A base teórica refere-se aos trabalhos de Klein, Bion, Winnicott, Steiner, Cassorla, Resende e Freud. A conclusão da pesquisa consistiu na defesa da importância, para o desenvolvimento da aprendizagem, de comportamentos emocionais ligados ao incremento da capacidade para viver a tristeza, aumentando a esperança no belo, que recupera o poder pensar do sujeito quando triste colocando-o diante de sua própria morte e de seu próprio ser.
Dr. Tomazelli

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Deus?

“Não há nada que coloque em risco a vida de Deus – só o fim da fé. Ele tem desafiantes e antagonistas, mas não tem predadores naturais, não corre o risco de morrer. Está protegido e dispensado de ter que cuidar da própria vida, e por isso pode se pôr a brincar.”


(Emir Tomazelli, 2008)

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Pascal e o infinito do espaço!

O homem perante a natureza*
Blaise Pascal
*Texto escrito em português antigo


"Ante a cegueira e a miséria do homem, diante do universo mudo, do homem sem luz, abandonado a si mesmo e como que perdido nesse rincão do universo, sem consciência de quem o colocou aí, nem do que veio fazer, nem do que lhe acontecerá depois da morte, ante o homem incapaz de qualquer conhecimento, invade-me o terror e sinto-me como alguém que levassem, durante o sono, para uma ilha deserta, e espantosa, e aí despertasse ignorante de seu paradeiro e impossibilitado de evadir-se. E maravilho-me de que não se desespere alguém ante tão miserável estado. Vejo outras pessoas ao meu lado, aparentemente iguais; pergunto-lhes se se acham mais instruídas que eu, e me respondem pela negativa; no entanto, esses miseráveis extraviados se apegam aos prazeres que encontram em torno de si. Quanto a mim, não consigo afeiçoar-me a tais objetos e, considerando que no que vejo há mais aparência do que outra coisa, procuro descobrir se Deus não deixou algum sinal próprio.
O silêncio eterno desses espaços infinitos me apavora.
Quantos reinos nos ignoram! Por que são limitados meu conhecimento, minha estatura, a duração de minha vida a cem anos e não a mil? Que motivos levaram a natureza a fazer-me assim, a escolher esse número em lugar de outro qualquer, desde que na infinidade dos números não há razões para tal preferência, nem nada que seja preferível a nada?"

pensamentos-sonho

"Pensamentos-sonho"

"Elaboraram-se muitos métodos de investigação – religiosa, legal, filosófica – para a descoberta da verdade. O destino dos psicanalistas tem sido expor a vacuidade das pretensões de todas essas disciplinas. Tanto quanto possível, precisamos achar um método que não nos leve para a mesma armadilha."
(Bion, 1982 a, p. 119)



Dr. Tomazelli

Mitos e sonhos!

Uma citação de Paulo Leminski, do seu livro Metaformose:


"Mito (fábula), conceito e número: esses os três instrumentos com que a mente humana procura colocar ordem no caos desconexo de fenômenos. Mitos são frutos da imaginação (são concretos). Os conceitos e os números nascem da abstração e da capacidade combinatória da mente humana (que tem uma tendência natural para jogos, variações no interior de estruturas fixas). Os mitos são obras de arte, como os sonhos, modelos de todas as obras de arte." (Leminski, 1994)


Dr. Tomazelli

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Recomendação de filme.

- Revolutionary Road


Um casal que se ama muito, e supõe poder pensar ser um casal especial, se casa e decide viver a vida juntos, ter filhos e morar bem.
Desde o início brigam, estão tensos quando estão na realidade. Vão à loucura, estão transtornados, sempre prontos para a destruição do oponente que proíbe o prazer fantasioso.
Quando estão “fora dessa realidade”, quando sonham que são especiais um para o outro, se amam e se prometem a felicidade e a vida viva.
Na realidade estão sós. Há um espelho que os separa. Eles o desconhecem e não têm como atravessá-lo, menos ainda como formulá-lo.
Só ultrapassam esse umbral quando, juntos, entram no sonho de viverem juntos. Mas na realidade estão sós. Mais que sós. Estão isolados, incomunicáveis.
Quando sonham se amam, e amam amar a vida e a aventura de vivê-la, e de ir para onde o deus interno mandar. São felizes ao satisfazerem o ‘Dioniso’ íntimo. Infelizes na realidade, no cotidiano. Onde a dureza moral e a morte do amor habitam.
Mas como todo rio, em algum momento, nossa vida também bifurca. Desvia, e se torna errática.
Assim, como todo fluxo que arrasta a água a força, a vida - para quem nós e nossos sonhos são absolutamente indiferentes - nos leva para um ponto qualquer, e nos obriga a operar com o que temos ou com o que nos sobra. Esses poderes maiores que nós e a nós indiferentes, acabam por nos arrastar na direção em que sua força empurra, pouco se importando com o que aos nossos sonhos acontece ou a nós mesmos.
Crava-se na cara do espectador, que a vida tem um sentido que não sabemos se queremos dar a nossas vidas. E que, mesmo que não o queiramos, o fluxo intenso nos leva para longe do projeto traçado em nossos sonhos, quando estávamos acordados sonhando juntos.
Por vezes somos absolutamente nada. E o gesto mais banal, feito com a segurança que somente os ingênuos possuem por não avalirem bem o perigo, faz de nossa vida um alvoroço. É como se nós saíssemos junto com a massa que grita nosso nome, e fôssemos, em meio a balburdia, arrastados para um modo de lidar com a vida no plano da autopreservação narcísica, mais que no do amor e do devaneio.
A queda é triste e sem perdão. E, se o ventre de uma mulher pode trazer a vida e a alegria, certamente, quando não fecundado também pelos sonhos, não fará outra coisa que não matar a ambos os corpos de bebê e de mãe, deixando o pai - macho imbecil - absolutamente só.
O que resta é apenas baixar o som do aparelho auditivo, para não ouvir a própria mulher, que fala mal dos vizinhos para o nada, enquanto afaga mecanicamente seu cachorrinho de estimação.
Mesmo assim, ou exatamente por isso, creio que valha a pena assistir o filme, apesar de imensa tristeza com a que se sai do cinema.
Dr. Tomazelli

Mais um poema, uma oração a mais!

Aquele que vaga

para aquele que vaga
no deserto do vazio
enquanto atravessa da casa para o trabalho
não lembra que o galho seco da caatinga onde transita,
se resvalar no olho do cabra ele mesmo,
fere-lhe a retina.
(corre de olho fechado, meu rapaz!
o muro, já sem reboco, te aguarda.
quer transformá-lo no verme que habita a fissura do tijolo e o miolo da argamassa)

quando a pessoa se perde
por vezes vai atrás do rabo.
assim só descobre o rabo como o motivo de sua desgraça.
(pobre diabo que se supunha prontinho e que nada mais lhe fosse acontecer de mal!
Depois ouve vozes:
“Eu lhe disse!”
“Eu lhe avisei.”
“Eu sabia.”
“Eu tinha visto que não iria dar certo.”
“Só você mesmo para acreditar nisso.” “É um banana.”
“Um homem, lúcido, não dá o passo maior que as próprias pernas.”)

meu deus? que cheiro úmido havia no porão da casa dos meus avós!
que excitações, que medos.
mistérios e bichos rastejantes dos quais sempre me mantive longe. um estranho odor de gás. mas ninguém buscou o suicídio através dele. foi o câncer mesmo que lhes fez o serviço.
nunca me imaginei crescendo. nunca me imaginei capaz...
não havia como formular essa pergunta naquele tempo, naquele início. tudo corria sem perigo ou problema.
afinal nasci de meu pai e isto, por si só, já bastaria...
mas... como minha mãe tinha medo dele, escapei de ser assassinado por ambos! foram mutuamente vigilantes e me protegeram de los odios suyos,
mas não escaparam um do outro sem se maltratar bastante. e isso é assim até hoje.
a vida correu, e eu corri um sem número de vezes fugindo do chinelo e da cintada!
levei algumas, me safei de algumas.
lá se foram os anos por baixo da ponte sobre a caudalosa correnteza...
e aí só foi nascerem os filhos... e... meu deus! um único solavanco e
a carga imensa pelos ares e o desespero para mantê-los vivos...
tentei mas...
tudo foi cedendo ao nada.
e as visitações aumentaram em número e tamanho
e os fantasmas se apossaram também do dia, porque a noite já era deles,
e a vida passou a ter que caber em um aposento a menos... mais exígua, mais asfixiante.

15/02/2009
emir tomazelli

Viste na web!

Talvez seja interessante visitar:

http://www.tomazelli.org/



Dr. Tomazelli

mais palavras interessantes.

Márcio Peter cunhou este termo.
Olhem que interessante!
"Foliesophie:
As significações da loucura não foram sempre as mesmas. Na visão de Homero, os homens não passariam de bonecos à mercê dos deuses. Situação, em que não teriam o domínio de si mesmos e por isto teriam seu destino conduzido pelas "moiras', o que criava uma aparência de estarem fora de si, de estarem possuídos por uma força maior e exterior. A isso os gregos chamaram 'mania'."
- Para saber mais e ler até o fim, acesse:

http://www.marciopeter.com.br/links2/destaques/dest_psicose.html

Dr. Tomazelli

Dr. Tomazelli recomenda muito!

Caros,
visitem este sítio de Márcio Peter de Souza Leite:


http://www.marciopeter.com.br/

Vale a pena.
Lição de simplicidade.
Isto é, profundidade associada a clareza e precisão.

Dr. Tomazelli

A clausura.

Fecho-me porque não tenho coragem de me conhecer, psicotizo para não me envolver com a descoberta de minha própria vida, de minhas próprias perdas e dos trajetos (avanços, retornos e labirintos) de minha própria história. Com isto evito contato com todas as experiências ligadas ao eixo temporoespacial, tais como:
- a duração, a espera, a distância, o percurso, o esforço, a ânsia, a angústia, o ficar, o ir, o permanecer, o voltar, o estancar, o fluir, o estagnar, o desfrutar, o prever, o desejar, o estar, o ser, a despedida, o adeus, a dor do esperar pela a vida a se viver, o isolamento, o exílio, a deserção, o território, a caçada, a emboscada, a presa, o matador e... a morte...
É psicótica a atemporalidade do inconsciente. Nela se trabalha com restos da presença, sem que o real participe a não ser como invasor, intruso.

Dr. Tomazelli

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Homossexualidade.

Homossexualidade

Uma idéia bem simples. O corpo não é bissexuado, é sexuado. Feminino em um caso, masculino no outro. Mas é algo inacabado ou incompleto, está sempre aberto para o outro. Está obrigado ao outro. Não é questão, é convite. Convite à vinda daquilo que falta, do outro já esperado em sua lógica, em seu vazio a espera de complementação.
Certo, ele é sexual, mas também é erótico, tanto quanto é real. Não é "bi"-sexual. Não está em busca de um gênero, ele - o Benedetto corpinho - é um gênero.
Com ele podemos fazer a farra que quisermos, brincar, abusar dele ou não usá-lo para nada além da autoconservação. Isto não está prescrito, é de cada um, e, assim sendo, o destino do corpo corre por conta do freguês, portador desse corpo.
Melanie Klein nos faz observar que psicossomaticamente meninos são meninos e meninas são meninas, salvo raríssimas exceções onde o físico se compôs de modo inesperado e alterou sua lógica.
O corpo ser sexuado tem enormes conseqüências psíquicas. Estruturais mesmo, eu diria. As lógicas dos dois tipos de corpo são distintas. A lógica dos gêneros é distinta. A feminina: receptiva. A masculina: intrusiva.
Não se deve confundir o corpo com a pulsão. Um é sexuado, a outra está a espera de uma forma que ela vai receber do objeto. Isto é, o corpo já é, não aguarda autorização para ser. A pulsão não, ela está em busca de um destino e de um significado que a oriente naquela direção para receber uma forma.
Por outro lado, Freud nos propõe que a forma se deriva do prazer ou do alívio que um objeto proporciona e não da ‘forma’ que oferece. É por isso que o corpo não tem significado definitivo em sua obra.
O que ele propõe é que a pulsão é uma abertura ao que o prazer desejar. Não há nada prévio prescrito, se erotizada, receberá uma forma derivada da identificação com o objeto que dá prazer.
Freud dá espaço para a construção da sexualidade por uma perspectiva que desconsidera o fato corporal. Em sua lógica, isola-o completamente, uma vez que considera a pulsão como sendo livre para tomar a forma que “necessitar” desde que essa forma ofereça prazer e descarga. Se o objeto oferece isto, ótimo! Eis aí a forma a ser tomada.
A pulsão é que toma a forma de um gênero e se sexualiza. Isto é, o sujeito escolhe um objeto de identificação, e, a partir daí um gênero, que é o gênero do objeto tomado por identificação. Esta sexualização por identificação é que define o gênero do sujeito. Bem... As teorias estão ao gosto de cada um.
Porém chamo a tua atenção leitor!
(1a) Há sujeitos onde o desejo mais forte não está no objeto que vem acalmá-lo. O desejo mais forte é o de desrespeitar o dado trazido pelo real (corpo) submetendo-o a uma outra lógica – perversa ou psicótica - que obriga a inversão da tendência a que o próprio corpo impõe;
(2a) Há sujeitos que não tendo identidade construída, seja por que razão for, confundem a exposição pública de uma pantomima homossexual com a própria homossexualidade; confundem uma campanha publicitária sobre uma mercadoria física, com a capacidade de sermos verdadeiros e enfrentarmos nossos paradoxos. Não, pelo contraio, não há nenhuma contradição em jogo, tudo é escolha e desejo, e, baseados nisto, fazem campanha pública fazendo uma passeata que prega o orgulho ‘gay’.
Qual será o valor disto?
Exaltar o que é obrigação não tem valor. Que cada um faça com seu corpo o que mais lhe apeteça, que cada um que siga a sua tendência, não há nada de especial nisso. A necessidade de se viver em contradição é a melhor manifestação da questão da homossexualidade. Fora disto caímos no vazio do espetáculo e na falsa discussão que é do gênero que falamos. Ao invés disto, melhor partirmos da questão da psicose e não da sexualidade. É de loucura que falamos e não de sexo.
Defeito grave de caráter daquele que deve argüir-se sobre a insanidade e resolve argüir-se sobre um ramo colateral e sem importância. Nesse buraco se confunde proselitismo e ostentação com oposição política. Por vezes me pergunto: para que haja um orgulho gay, qual seria mesmo o orgulho de ser hétero? Haveria, de fato, algo para se orgulhar das coisas que dizem respeito ao nosso corpo ou das que fazem uso dele?
O que inquieta, para pobres diabos como nós que nos sexuamos á moda antiga feliz ou infelizmente, é que alguém tenha uma incapacidade de reconhecer a identidade primária vinda tatuada no próprio corpo, por não poder construí-la psiquicamente - demonstrando não ser capaz de suportá-la e menos ainda de reconhecê-la. Isto é psicótico. É como desejar não ser o que se é.
De modo algum se está falando de sexo, nesta linha de pensamento do que se trata é partir da hipótese que o real pode ser escolhido, alterado e refeito ao bel prazer do maluco que dirige sua mente, basta que eu mude tudo com as próprias mãos. Meu deus, para onde vamos?
Na primeira, o sujeito constituído encara e sustenta um desejo que ultrapassa a norma feroz que o corpo dita. Na segunda, o sujeito não chegou a ser, e diz que, o que é, é o ser homossexual que ele julga que pode ser como se fosse sua própria vontade.
Aí temos problemas que oscilam entre o sujeito desejante e o sujeito não constituído. Falta, tanto a um quanto ao outro construir o sujeito triste (homossexual ou não). Aquele que vive seu gênero em seu próprio silêncio, em sua própria alegria e dor, e da forma que lhe é possível no dia em que se encontra.
Aos que desconsideram esta possibilidade e que não estão constituídos de forma a dar conta das contradições, estes jamais poderão ser inscritos no campo dos homens que ‘escolheram’ para si a vida que julgaram ser a melhor para eles. Sem uma boa pitada de tristeza, sem sujeitos capazes de entristecer e compreender o que são pela via dos fatos observados, acolhidos e transformados em condição de existência e conhecimento, não há como ser alguma coisa. Se o que os homens estão propondo com sua homossexualidade é uma nova forma de ser, a mim esse ato não passa de a uma proposta ideológica e psicótica que quer impor ao homem que o corpo pode ser aquilo que o mesmo não certifica e/ou possui!
É isso aí!

Dr. Tomazelli

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

palavras curiosas!

A espelunca.
Cito o dicionário:
espelunca -
n substantivo feminino
Uso: pejorativo.
1 cavidade profunda no solo; caverna, cova, furna
2 cova de animais
3 Derivação: sentido figurado.
esconderijo de bandidos; covil, antro
4 Derivação: sentido figurado.
habitação cheia de sujeira, em desordem, escura
5 Derivação: por extensão de sentido.
qualquer lugar sem asseio, mal freqüentado
6 Derivação: por extensão de sentido.
casa de jogo de baixa categoria, ger. clandestina; baiúca

(dicionário eletrônico houaiss da língua portuguesa - versão 1.0 2001)

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

T.S. Elliot.

"O cadáver que plantaste ano passado em teu jardim
Já começou a brotar? Dará flores este ano?
Ou foi a imprevista geada que o perturbou em seu leito?
Conserva o Cão à distância, esse amigo do homem,
Ou ele virá com suas unhas outra vez desenterrá-lo!
Tu! Hypocrite lecteur! - mon semblable -, mon frère..."
(Trecho de ''Terra Desolada'', publicado pela Editora Nova Fronteira em ''T.S. Eliot - Poesia''.
tradução de Ivan Junqueira)

A pena e a penitência.

“exiled . . . all alone to a place where nothing could reach her, where she was cut off from all human things, from everything that men have the right to claim.” Avoiding that helpless “place” became the goal of Arendt’s life and thought. The categorical imperative of her political theory might be phrased: Thou shalt not be a shlemihl*."
*(unlucky devil)
Beware of Pity
Hannah Arendt and the power of the impersonal.
by Adam Kirsch

http://www.newyorker.com/